sábado, 1 de dezembro de 2007

Os Bootlegs, os Piratas e a Nova Ordem Mundial

Bootleg é o termo em inglês para um disco não oficial (e não autorizado) de um artista (aqui no Brasil é conhecido como pirata). Geralmente é uma gravação de um show e pode ser feita por um fã no meio da platéia, ou em um esquema mais profissional com gravação direto da mesa de som. Este último esquema produz uma gravação com melhor qualidade. O primeiro cd que comprei foi um bootleg do The Police ao vivo em 1979 em sua primeira turnê pelos Estados Unidos. Isso foi antes mesmo de eu ter um cd palyer. Eu fui a casa de um amigo para pode ouvi-lo.

Atualmente, o termo "disco pirata" adquiriu outro sentido. O termo refere-se às cópias dos discos oficiais encontradas nos camelôs. Para melhor entendimento usarei o termo pirata com este sentido e o termo bootleg com o sentido original.

A cultura dos bootlegs ajudou a criar mitos e alguns são tão raros que se tornaram o santo graal dos fãs. O bootleg é uma coisa de fã, é uma tentativa de compartilhar e eternizar momentos ao vivo da banda objeto de culto. Claro que o lance se profissionalizou e muita gente ganhou dinheiro com isso. Os últimos bootlegs que ouvi são gravações de excelente qualidade e as capas e encartes dos disco eram muito bons. Alguns bootlegs acabaram se tornando discos oficiais, como o acústico do Paul Mcartney, que têm o subtítulo "The Official Bootleg". O Pearl Jam, cansado de ver seus shows seguidamente virarem bootlegs, lançou diversos discos de seus shows naquela série de álbuns de papelão.

Os discos piratas nasceram da tecnologia moderna. Com a queda dos preços de computadores e dos cd's virgens, ficou fácil para os meliantes montarem fábricas de cd's no quintal de casa. Ajudados pelo elevado preço dos cd's originais e com uma logística de produção descentralizada e distribuição maciça, os discos piratas inundaram o mercado brasileiro. Os bootlegs nunca foram uma dor de cabeça para as gravadoras, eles representavam um mercado paralelo ao dos discos oficiais. Eram sim, uma dor de cabeça para alguns artistas que não não ganhavam com essa produção alternativa. Não ganhavam diretamente, pois os bootlegs ajudavam a cultivar os fãs em torno da banda.

Agora o jogo é diferente, junte-se a internet, com as tecnologias baratas para gravação de cd's, o iPod e um bando de garotos entendidos em informática e ... BUUM! Os programas peer-to-peer (P2P) surgiram e, o que os fãs faziam com as fitas K7, agora podem fazer através dos fios com alguém do outro lado do mundo.

As novas tecnologias mudaram a maneira como a música é vista e utilizada pelo consumidor, mas a indústria musical ainda continua na era do vinil. Isto fez com que seus lucros despencassem e os investimentos passaram a ser direcionados para os sucessos fáceis e certeiros. Com menos dinheiro, o jabá das rádios minguou e elas também passaram a tocar a música do povão, sucessos populistas para as massas. E tome flashback. Coletâneas e mais coletâneas caça-níqueis foram lançadas. Timidamente as gravadoras entraram na era da música digital, contudo a idéia de manter o lucro continua e paga-se o mesmo preço do cd nas músicas por download.

As gravadoras acordam lentamente para a nova ordem mundial. Há um novo ambiente lá fora e não adianta insistir no mesmo modelo de negócio. Há que se fazer uma quebra de paradigma. Mas isso exige pensar, e aí já é pedir demais... Ao contrário, preferem virar suas baterias para o usuário dos sistema P2P de troca de música. Os chamam de piratas e os processam, como aconteceu recentemente com uma mãe solteira americana que vai ter que trabalhar a vida inteira para pagar a multa que a RIAA conseguiu lhe aplicar através da corte norte-americana.

Eu baixo música na internet, mas não me considero um pirata. Sou um fã e troco música com outros fãs. Mas também compro cd's, aliás, compro muito cd. Não adianta lutar contra a maré, baixem os preços das músicas por download. Vide Radiohead, viva o Radiohead. Acredito que o volume de negócios via internet iria aumentar.

Como diria o Pernalonga: "por hoje é só pessoal". Faltam 7 dias para o show da década. Este será o tema da próxima coluna.