quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Tragam-me a Noite

Coloquei o título provisório para esta coluna de "o melhor disco de todos os tempos". Um certo exagero que corrigi mais tarde. Mas "Bring on the Night" merece estar na minha lista de preferidos. Já teci louvores a este disco em outra coluna e agora resolvi dizer o por quê.

Após ter saído do The Police no auge, Sting inova e surpreende reunindo um grupo de ótimos músicos de jazz para seu primeiro álbum solo. Com Omar Hakim (bateria), Brandford Marsalis (saxofone e clarinete), Daryl Jones (baixo), Kenny Kirkland (teclados) e as backing vocals Janice Pendarvis e Dollete McDonald, "The Dream of the Blue Turtles" foi um ótimo disco, com arranjos jazzisticos para um pop rock as vezes meio engajado. Mas ao decidir registrar a turnê deste álbum em disco surgiu algo mágico. O que já era bom extrapolou a escala de excelência.

Como primeiro disco ao vivo de sua carreira Sting arrisca e grava um álbum duplo. Poderia ter seguido a fórmula fácil e gravado alguns dos medalhões do repertório do Police. "Roxxane", "Every Breath You Take", não estão lá. Também não está a música de trabalho do álbum ora em divulgação, "If You Love Somebody Set them Free", nem "Russians". Mas, sim, misturou músicas do novo disco com releituras de algumas músicas não tão conhecidas do Police.

A abertura com a versão medley de "Bring on the Night/When the World is Running Down, you Make the Best of What's still Around" é uma explosão de um ritmo que viria a se chamar mais tarde de acid jazz. Brandford Marsalis estava em estado de graça e sua participação foi fundamental para dar coesão ao disco. Seu solo de clarinete em "Children Crusade" é de arrepiar. Aquele soprador de apito chamado Kenny G deveria ouvir esse disco para tentar aprender como tocar aquele instrumento.

No LP, medley de "One World (not three)/Love is the Seventh Wave", outro grande momento, vinha junto com "Moon Over Bourbon Street" e "I Burn for you", tornando-se um dos melhores lados do álbum. Esta última foi um lado b de algum compacto (single) do "Synchronicity" que , na minha opinião, deveria ter substituído "Mother" (certamente a pior música do Police) naquele disco.

No último lado, tínhamos uma música de protesto, "Another Day"(lado b de um compacto do disco solo). A versão maravilhosa de "Children Crusade", onde Brandford faz valer o seu salário. E para finalizar, um blues em "Down so Long" e uma linda versão de "Tea in Sahara". Perfeito do início ao fim, está notopo da minha lista de melhores discos ao vivo. Recomendo ouvir sem moderação.

"As quiet fills the room
And your love flows through me
Though I lie here so still
I burn for you"
Sting