sábado, 31 de outubro de 2009

MINI-SAIA

Saio do meu período de hibernação para constatar algo que me faz triste com a nova geração. O que acontece com a atual juventude? O que faz um universidade inteira quase linchar uma aluna que usa mini-saia? Os xingamentos em coro de "puta, puta" parecem estar fora de lugar. O local era uma universidade, local de estudo e de mentes que se supõe educadas e cultas. Essa mesma juventude não tira a bunda do sofá para protestar contra as injustiças cometidas diariamente contra o povo, ou para protestar dos políticos corruptos, ou ainda para pedir mais segurança. Resolve então, protestar contra o uso da mini-saia!
Deve ter sido o mesmo pessoal que enche a cara no sábado a noite e sai dirigindo carro colocando a vida dos demais cidadãos em perigo.
Parece que estamos de volta a idade média. Uma atitude de preconceituosa de extrema direita, só faz-me lembrar da inquisição, ou dos anos 30 nos EUA, onde o racismo fazia com que negros não pudessem estudar nas mesmas escolas que os brancos. Parece que esqueceram-se das gerações passadas, como a de 60 que lutou contra a ditadura, ou a de 80 que lutou pelas eleições diretas, ou ainda mais recente, a geração que protestou pelo deposição de Collor.
Em tempos que se mata por qualquer motivo, onde policiais roubam uma jaqueta e um tênis usado de um ladrão assassino e o libertam, ou que estudantes protestam conta a mini-saia, só me causam tristesa e desgosto com essa geração que aí está.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

MJ

Como amante de música, não posso me furtar a falar de Michael Jackson. Comecei a me interessar por música no início da década de 80 e no início tudo era pop. Eu tinha poucos discos e ouvia muito rádio, e Michael estava sempre presente nas rádios.

Penso no início da minha adolescência e não há como não vir a imagem dos video clips do álbum Thriller. Era um coisa diferente, ninguém fazia igual, e muitos tentaram depois dele. Lembro de Billy Jean tocando nas festinhas e nós tentando dançar com os pés escorregando para trás.

Era uma criatividade e um capacidade incrível de fazer música que encantava a todos. Acho que apenas Madonna rivalizava com ele.

Que sua alma descanse em paz.

domingo, 8 de março de 2009

Uma segunda-feira qualquer

São 07:00 horas da manhã, eu desço do ônibus na avenida Presidente Vargas, esquina com Uruguaiana. Vários mendigos ainda dormem na calçada imunda da Presidente Vargas. As pessoas passam e parecem não notar, não fosse pelo incômodo cheiro de urina. Apertam o passo, prendem a respiração, atravessam a avenida. Há um homem que me chama a atenção, parado, imóvel, no canteiro central da avenida. O olhar vazio, as mãos às costas, não emite uma só palavra. quase todos os dias ele está por ali, com aquela mesma pose. Qual será o seu nome? Qual será sua história? Tento não pensar nessas coisas e sigo em frente.

Continuo o meu caminho e vou driblando os entregadores de papel. Pessoas se aglomeram em frente a uma banca de jornal. Há notícias sobre futebol e mulheres seminuas nas capas dos jornais. Na esquina da Miguel Couto, mais mendigos. Parece ser uma família, os menores correm para o bar em frente e pedem comida. O dono dobas manda que fiquem do lado de fora. As pessoas respondem algo, sem nem olhar para elas, apressam-se em terminar a comida e seguem seus caminhos.

Detenho-me por uns instantes e observo a mãe com o mais novo, ele parece ter menos de 2 oanos. Ela tira-lhe a fralda e deixa-o nu. Pega uma garrafa com água e lava-o precariamente, faz frio e ele chora. Ela grita com ele e veste-o a mesma fralda com que o pequenino dormira. Ela levanta e segue para o bar. Eu abaixo a cabeça e sigo em frente. Chego a lanchonete e compro pães de queijo e mate.

Enquanto o computador carrega o windows eu como meu lanche a agradeço a Deus pelo que eu tenho. Penso naquele cara no meio da avenida. Obviamente sofre de alguma doença mental, como chegou a tal nível de degradação? Penso na hipótese que acho mais factível: abandonado pela família, qual um cão doente que não se quer mais, ou um sofá quebrado que não tem mais utilidade.

A faltar um quarto de hora para o meio-dia eu saio para o almoço. Ao chegar na rua da Alfândega vejo o senhor que está sempre por ali sentado a pedir esmolas com seu cabelo rastafari, e suas roupas sujas. Ninguém lhe ouve, ninguém lhe vê, ninguém lhe olha nos olhos. Desviam dele e do seu cheiro, como se ali estivesse um monte de merda. Ele me dirige a palavra e me pede alguns trocados, digo que não tenho, ou algo parecido e sigo em frente. Mais adiante, outra figura conhecida na região, um mendigo grandalhão que, apesar do frio, está sem camisa. Ele está parado, de braços cruzados falando incompreensível com algum amigo imaginário.

Penso nos Paralamas: "A cidade apresenta suas armas, meninos nos sinais, mendigos pelos cantos e o espanto está nos olhos de quem vê o grande monstro a se criar".

Um rapaz passa correndo e logo atrás uma senhorinha de salto alto e minisaia tenta correr pela rua a gritar "pega ladrão". Quando retorno do almoço vejo o rapaz ladeado por dois guardas municipais grandalhões e a senhorinha logo atrás.

Às 17:00h em ponto eu vou para o ponto de ônibus. Atravesso a Presidente Vargas e cruzo a fila de pessoas na espera de uma van pirata. O rapaz, que deve ser o "despachante", berra os nomes dos bairros tentando arrebanhar mais alguns passageiros. Eu entro no ônibus, fecho os olhos e tento cochilar, penso em Lô Borges (ou seria Beto Guedes?): "...e lá se vai mais um dia...".

Aconteceu em uma segunda-feira, mas poderia ter sido na terça, ou na quarta, ou...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Faz um calor infernal. Meus vizinhos se divertem à piscina ao som de uma trilha sonora que vai de rock anos 80 à Maná. O Porto joga com o Benfica na TV e eu aproveito o intervalo para escrever um pouco. Escuto Xutos e Pontapés no fone. O rock em português soa meio estranho, mas estou me acostumando.

O jornal lido está dobrado e meio amassado no porta revistas. Revistas velhas acumulam-se na estante. Um dia vou jogá-las fora. Passo a mão pelo rosto e lembro que ainda tenho que fazer a barba. O joelho não dói e isso é bom.

A autobiografia do Andy Summers está a minha frente sobre a escrivaniha do escritório. Estou gostando. Há algo de comum nas biografias de músicos que li. Autodidatas começaram sua paixão pelo instrumento que escolheram e pela música no início da adolescência. Ganharam um violão de alguém e foram autodidatas. Lembro da minha gaita na gaveta ao meu lado. Preciso voltar a tocar.

Minha filha entra no escritório e me dá um beijo. Ela já tem um tecladinho, penso em colocá-la na aula de música, mas talvez ainda seja cedo, ou não. Ela não parece se interessar muito.

Acho que o jogo já recomeçou. Daqui a pouco acabará o domingo e lá se vai meu pequeno período de férias semanais. Quem sabe eu ganho na Mega Sena.

"E lá se vai mais um dia..."
Beto Guedes