domingo, 8 de março de 2009

Uma segunda-feira qualquer

São 07:00 horas da manhã, eu desço do ônibus na avenida Presidente Vargas, esquina com Uruguaiana. Vários mendigos ainda dormem na calçada imunda da Presidente Vargas. As pessoas passam e parecem não notar, não fosse pelo incômodo cheiro de urina. Apertam o passo, prendem a respiração, atravessam a avenida. Há um homem que me chama a atenção, parado, imóvel, no canteiro central da avenida. O olhar vazio, as mãos às costas, não emite uma só palavra. quase todos os dias ele está por ali, com aquela mesma pose. Qual será o seu nome? Qual será sua história? Tento não pensar nessas coisas e sigo em frente.

Continuo o meu caminho e vou driblando os entregadores de papel. Pessoas se aglomeram em frente a uma banca de jornal. Há notícias sobre futebol e mulheres seminuas nas capas dos jornais. Na esquina da Miguel Couto, mais mendigos. Parece ser uma família, os menores correm para o bar em frente e pedem comida. O dono dobas manda que fiquem do lado de fora. As pessoas respondem algo, sem nem olhar para elas, apressam-se em terminar a comida e seguem seus caminhos.

Detenho-me por uns instantes e observo a mãe com o mais novo, ele parece ter menos de 2 oanos. Ela tira-lhe a fralda e deixa-o nu. Pega uma garrafa com água e lava-o precariamente, faz frio e ele chora. Ela grita com ele e veste-o a mesma fralda com que o pequenino dormira. Ela levanta e segue para o bar. Eu abaixo a cabeça e sigo em frente. Chego a lanchonete e compro pães de queijo e mate.

Enquanto o computador carrega o windows eu como meu lanche a agradeço a Deus pelo que eu tenho. Penso naquele cara no meio da avenida. Obviamente sofre de alguma doença mental, como chegou a tal nível de degradação? Penso na hipótese que acho mais factível: abandonado pela família, qual um cão doente que não se quer mais, ou um sofá quebrado que não tem mais utilidade.

A faltar um quarto de hora para o meio-dia eu saio para o almoço. Ao chegar na rua da Alfândega vejo o senhor que está sempre por ali sentado a pedir esmolas com seu cabelo rastafari, e suas roupas sujas. Ninguém lhe ouve, ninguém lhe vê, ninguém lhe olha nos olhos. Desviam dele e do seu cheiro, como se ali estivesse um monte de merda. Ele me dirige a palavra e me pede alguns trocados, digo que não tenho, ou algo parecido e sigo em frente. Mais adiante, outra figura conhecida na região, um mendigo grandalhão que, apesar do frio, está sem camisa. Ele está parado, de braços cruzados falando incompreensível com algum amigo imaginário.

Penso nos Paralamas: "A cidade apresenta suas armas, meninos nos sinais, mendigos pelos cantos e o espanto está nos olhos de quem vê o grande monstro a se criar".

Um rapaz passa correndo e logo atrás uma senhorinha de salto alto e minisaia tenta correr pela rua a gritar "pega ladrão". Quando retorno do almoço vejo o rapaz ladeado por dois guardas municipais grandalhões e a senhorinha logo atrás.

Às 17:00h em ponto eu vou para o ponto de ônibus. Atravesso a Presidente Vargas e cruzo a fila de pessoas na espera de uma van pirata. O rapaz, que deve ser o "despachante", berra os nomes dos bairros tentando arrebanhar mais alguns passageiros. Eu entro no ônibus, fecho os olhos e tento cochilar, penso em Lô Borges (ou seria Beto Guedes?): "...e lá se vai mais um dia...".

Aconteceu em uma segunda-feira, mas poderia ter sido na terça, ou na quarta, ou...