sábado, 20 de março de 2010

REFLEXÕES SOBRE LIBERDADE E LIVRE ARBÍTRIO

Venho há algum tempo refletindo sobre o significado destes dois termos: liberdade e livre arbítrio. Comumente livre arbítrio é entendido como “o poder do ser humano, consciente, de decidir livremente” (dicionário Michaelis). Um poder que nos foi dado por Deus para direcionar nosso caminho de acordo com a nossa vontade.

Penso em livre arbítrio como algo diferente. Não seria livre arbítrio o universo de possibilidades que se nos apresenta a cada momento? Tudo aquilo que podemos fazer da nossa vida naquele exato segundo à nossa frente? Posso continuar escrevendo este texto ou me levantar e ir ao banheiro. Ou posso beber água, ou pegar uma caneta e golpear violentamente a pessoa que está sentada ao meu lado. E por aí vai.

Todos tem um livre arbítrio ilimitado, porém, cada pessoa tem o seu próprio universo de possibilidades. O que difere o livre arbítrio de uma pessoa para outra são as condições ambientais, sociais e geográficas de cada um. Um indígena que está no meio da selva amazônica neste momento não tem o mesmo universo de possibilidades do que um executivo que esteja em um prédio em São Paulo no mesmo momento.

Todavia, apesar de eu ter uma infinidade de possibilidades, eu escolho apenas uma, ou me restrinjo a algumas e descarto terminantemente outras. Eu certamente não vou golpear meu colega com a caneta, nem vou roubar-lhe a carteira. E o que faz com que eu me levante todos os dias para ir trabalhar ao invés de ir à praia sem nem pestanejar? Isso tem a ver com liberdade.

Liberdade é o que limita nossas escolhas a um pequeno grupo. Mais uma vez recorro a um dicionário: liberdade é o “estado de pessoa livre e isenta de restrição externa ou coação física ou moral”. Este conceito é próximo ao de livre arbítrio apresentado pelo mesmo dicionário. Considero algo diferente do senso comum e digo que a liberdade é diferente de livre arbítrio. A liberdade implica num universo de escolhas menor que do que o livre arbítrio.

Cada pessoa tem um grau de liberdade próprio. E esse grau de liberdade impede que a liberdade de um indivíduo seja igual ao seu livre arbítrio. As possibilidades de escolha de cada pessoa são limitadas pelos valores que cada um carrega, com a ética de cada indivíduo e com sua educação. É como ir a um restaurante a peso com um enorme buffet. Os judeus, por exemplo, não vão comer carne de porco. Os vegetarianos não vão comer carne e algumas pessoas não vão comer verduras e legumes porque seus pais não lhes ensinaram a comer esse tipo de comida. A quantidade de comida é a mesma para todos que estão no restaurante, mas o que cada um escolhe varia com suas próprias crenças, valores, gostos etc.

Assim cada um tem o seu grau de liberdade e age sem pensar nisso. O que me faz acordar de manhã e ir trabalhar e não ir a praia é o compromisso que assumi comigo, com minha família e com o meu empregador. Eu acredito que isso é a atitude correta e carrego essa responsabilidade comigo. Vou ao trabalho porque quero, porque preciso e não penso em outra possibilidade.

Isso nos faz, de certa forma, escravos das nossas escolhas. Os compromissos assumidos e a responsabilidade em cumpri-los restringem nosso grau de liberdade e ficamos presos a um pequeno número de opções.

Fica a pergunta: você é livre?