quinta-feira, 13 de março de 2008

Eu e os Paralamas

Minha relação com a música começou aos 13 anos talvez. Até então eu não ligava muito para música. Então comecei a ouvir algo diferente no rádio. Uma música que me atingiu de forma diferente. E quando olhei para o lado, parecia que não estava sozinho, por que minha geração também curtia essa música.

Logo me identifiquei com os Paralamas do Sucesso. "Óculos" era minha música. Depois de uns 6 anos usando óculos, alguém cantava o que eu sentia. Essa e outras dos Paralamas fizeram parte da trilha sonora da minha adolescência. Um dos melhores períodos da minha vida. Então não há como ouvir os primeiros acordes de Leo Gandelman em "Ska" e deixar de lembrar daquele período. Já assisti a vários shows do Paralamas e em todos eu me sinto quase em transe quando ouço as músicas desse disco. Realmente me emociono.

"O Passo do Lui" é um disco fantástico. Foi um álbum que ajudou a definir um movimento. Que junto com alguns outros fundaram o Rock Brasil, ou BRock termo criado por Arthur Dapieve. É certamente o disco mais "Policeano" dos Paralamas. Aquela mistura de rock e reggae que o Police fez em seu segundo disco estão ali, junto com a new wave dos Talking Heads. Certamente foi uma evolução em relação ao "Cinema Mudo".

"Eu quis dizer - você não quis escutar" são versos que viraram clássicos. "Meu erro", "Fui Eu", "Mensagem de Amor" são músicas cujas letras mostram o excelente compositor que surgia ali. Herbert e Renato Russo foram os melhores de sua geração. Apesar de não ser um dos melhores vocalistas da época, sua voz se encaixa bem na produção do disco.

Depois de seguir mergulhar mais fundo no reggae em "Selvagem", os Paralamas lançaram um disco magistral. Para mim, o melhor disco lançado naquele ano (acho que foi 1987), "Bora Bora" é outro discaço dos Paralamas. Se o segundo disco é pura jovialidade, o quarto é pura maturidade. O álbum é de uma produção primorosa, com metais e teclados pegando fogo. A faixa-título, junto com "Bundalelê", é de incendiar qualquer platéia.

O lado b do vinil abria com "Uns Dias" um rock com muita guitarra e ritmo forte. Depois vinha uma balada, lindíssima, daquelas que só uma dor de corno pode fazer: "Quase um Segundo". Fui ao show de lançamento deste disco no Canecão e com Charlie Garcia no piano ao vivo foi de arrepiar.

"O Beco" tem ainda versos que ainda hoje continuam atuais. Uma crítica à letargia de uma camada da sociedade.

"...Mas nada atrapalha o meu sono pesado
Nada levanta aquele corpo jogado
Nada atrapalha aquele bar ali na esquina
Aquela fila de cinema
Nada mais me deixa chocado.."