domingo, 23 de dezembro de 2007

Talking by my Generation

Acabo de chegar de Manaus, onde convivi por 10 dias com 2 adolescentes. É engraçada a reação deles a tudo que vem de nós mais velhos. Em geral as coisas que apresentamos são consideradas chatas, velhas e ultrapassadas (caretas, para usar um termo mais apropriado). Seja no campo das artes audiovisuais ou literatura ou culinária. Quando tentei convencê-los a assistir Gremlins, me perguntaram se o filme era em preto e branco. Tento me lembrar de como eu era nessa idade e a memória que tenho é que apesar de também negar a geração anterior eu sempre tive um a certa curiosidade de conhecer coisas diferentes.

Entendo que os adolescentes têm a necessidade de se afirmar no mundo e cortar o cordão umbilical com seus pais e começam a fazer suas próprias escolhas. E uma forma de se afirmar é negar aquilo que vêm dos pais (ou das gerações anteriores), do tipo: não sei o que quero mais sei o que não quero. Contudo, da forma com que encaro as coisas agora, tudo que não conheço é uma novidade, tenha sido produzido a 30 anos atrás ou há apenas 30 dias.

O mais incrível é que eu sempre me achei antenado com as novas gerações. Sempre encarnei o velho lema "I hope I die before I get old". Tento sempre conhecer a produção cultural da nova geração, mas creio que isso não é suficiente. Eu sempre serei encarado como o Tio, sempre serei um forasteiro. Não que eu queira fazer parte da turma, mas apenas trocar experiências e impressões. Creio que é preciso amadurecimento para reconhecer que há mais no mundo do que a última melhor banda de todos os tempos. Eu mesmo demorei a curtir jazz, por achar uma música careta.

Acho que não conseguirei vencer esse conflito mesmo tendo boa vontade em passar novos conceitos para a garotada, e talvez seja bom assim. Algumas boas revoluções na música e nas artes em geral ocorreram dessa forma, como o modernismo, o punk rock e o tropicalismo. Aguardo a vez de duelar com minha filha.

"Não confie em ninguém com mais de 30,
Não confie em ninguém com 32 dentes."
Titãs

sábado, 15 de dezembro de 2007

"Viver é difícil"

Assim falou Niemeyer em seu aniversário de 100 anos: "viver é difícil". Olho um encarte da Fnac com livros de auto-ajuda. Parece que todos os segredos da vida foram revelados e tudo será mais fácil. Parece que está tudo lá, nos livros. Como ficar rico, como ser feliz, como ser bem sucedido. Mas Niemeyer serenamente diz que viver é difícil.

O que me espanta mais é a fertilidade do mercado editorial para esse tipo de baboseira. Surgem verdadeiras franquias destes livros que vendem aos montes. Isso me irrita mais do que franquias de filmes. Quem mexeu no meu não-sei-o-que para jovens, para mulheres e para executivos. E ainda geram dvds para explicar o livro. Peguei esse tal de "O Segredo" para ler em uma livraria e fui direto ao ponto e... é só isso? O segredo é o pensamento positivo? É mentalizar o objeto de desejo até conseguí-lo? Acho que já vi isso, mas não estava em um livro, estava dentro de uma lâmpada.

O Rabino Nilton Bonder foi entrevistado pelo JB há poucos domingos. Ele chamou essa classe de livros de pizza: é bom mas não alimenta. Eu diria mais, faz mal à saúde. Bonder lançará em breve um livro chamado "O Sagrado" em que fala da espiritualidade como o segredo da vida. Uma resposta ao famigerado "O Segredo". Caro Bonder, esse nome vai colar mais que aquela cola sua xará. Involuntariamente, talvez você esteja dando munição aos bandidos e criando mais uma franquia.

O que procuram esses leitores de livros de auto-ajuda? O que procuram fora de si? Olhem um pouco mais para dentro de si, a verdadeira descoberta está no EU. Está em saber a verdade pessoal que está dentro de nós. Isso não se aprende em livros. Não se aprende a viver nos livros. Cada um descobre à sua maneira. Não existe fórmula mágica. Vou repetir: "NÃO EXISTE FÓRMULA MÁGICA".

O milagre está dentre de nós. Algumas religiões até prometem resolver nossos problemas. Mas na religião encontramos conforto, fraternidade, encontramos a palavra amiga e a força para seguir adiante. Mas os problemas não se resolverão sozinhos. Para cada um novo obstáculo, um novo algoritmo.

Obrigado Niemeyer pela frase simples e verdadeira: "Viver é difícil". Esse pessoal da auto-ajuda necessita é de análise. Jung, Freud e Lacan neles!

"And when you want to live,
How you start? Where to go? Who you use to know?"
The Smiths

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Sobre Shows e Momentos Memoráveis

Continua chovendo para cacete. Ouço "Bring on the Night" enquanto escrevo a coluna da semana. É um disco maravilhoso, que turnê divina deve ter sido essa. É um disco que merece uma coluna inteira e ainda vou escrevê-la. O que me chama a atenção é que o dvd não faz jus ao álbum. No dvd o show parece morno, morno. Isso foi motivo de debate em uma lista de emails que faço parte. Ainda que alguns shows sejam considerados um marco, assiti-los na tv não dá a nítida sensação do que ocorreu in loco.

Contudo, há casos em que a mágica permanece. Como não se arrepiar ao assistir ao show do Queen no Rock in Rio 1? - show disponível no emule para quem quiser baixar - Felizes os que estiveram lá para cantar "Love of my Life" regidos por Fred Mercury. Também felizes são os que estiveram na Apoteose e giraram as camisas acima de suas cabeças quando Page & Plant tocaram "Rock'n'Roll". Foram momentos de catarse coletiva e quase religiosos, eu diria.

São esses momentos que tentamos preservar gravando e trocando com os amigos. Alguns viram bootlegs.

Momentos memoráveis aos montes tem um baixinho cuja bibliografia estou lendo. "Noites Tropicais" tem tantas histórias legais que é de dar inveja. Esse Nelson Motta é mesmo "O Cara"! Ele conviveu com a galera da bossa nova e frequentou todas aquelas festinhas musicais que rolavam na Zona Sul dos fins dos anos 50. Conhece todo mundo da música brasileira de A a Z. Passou pelos anos 80 com a galera do BRock. Descobriu Marisa Monte. Foi parceiro do Edu Lobo e do Lulu Santos em clássicos.

Namorou a Elis Regina, casou-se com a Marília Pera. Ainda por cima, foi a umas 5 copas do mundo. Foi membro do Manhattan Connection, e para completar o cara parece ser simpático para cacete e escreve muito bem. Espero ganhar a biografia do Tim Maia (olha a dica Papai Noel) até o meu aniversário (13/01).

Estou de férias e a próxima coluna será escrita em Manaus. Até Lá.

domingo, 9 de dezembro de 2007

A Máquina do Tempo

1987. Eu estava ansioso pelo show. Meu primeiro grande show de rock e com o meu grande ídolo Sting. Naquela época, então com 16 anos, tudo era apaixonante e cheio de superlativos. Eu fui ao show graças ao meu primo que me deu o ingresso. Fomos de cadeira de pista e ficamos bem róximos ao palco. Tênis All Star, camisa e bermuda, e a garganta cantando a plenos pulmões.

2007. Eu estava ansioso pelo show. Ontem, tudo parecia menos importante, apenas algo a se interpor entre mim e o show. Tênis All Star, camisa e bermuda. Entramos cedo, e ficamos falando amenidades a espera do grande momento. As palavras passavam a minha frente sem que eu as notasse. Era como em Confortably Numb: "your leaps move, but I can't hear what your saying".

Aos primeiros acordes de "Vital e sua Moto" já não era mais 2007, era 1987. Apesar da minha artrose constantemente me lembrar do peso de meus quase 37, ali, naquele momento eu tinha 16. Lembrei-me do meu primeiro show do Paralamas em 85. Hebert atacou os acordes iniciais de "Selvagem", música de mais de 20 anos, cuja letra poderia ter sido escrita há poucos meses atrás: "Meninos nos sinais, mendigos pelos cantos e o espanto está nos olhos de quem vê o grande monstro a se criar." Alguém não vê isso todos os dias?

Ao final de "Óculos" eu estava emocionado e cantava a plenos pulmões, a voz já rouca e vi minha vida passar a minha frente. "Ah meu Deus era tudo que eu queria"...

Chegou o grande momento. Eles entram no palco e nos atacam com "Message in a Bottle". Respondo com palmas e canto o mais alto que posso. Será que amanhã tenho aula na ETFQ? Será que tenho alguma prova? Já não me lembro que dia ou que ano estamos. "Synchronicity II" é a segunda, o povo pula e canta. Andy sola e parece nos cortar ao meio com a guitarra. Stewart destrói a bateria ferozmente, ele também parece ter voltado no tempo. Sting agradece em português e faz nossos corações baterem ao ritmo de seu baixo.

O desfile de sucessos em novos arranjos continua sem parar. "Driven to Tears" vem mais roqueira, sem o funkeado original e me surpreende. "Truth Hits Everybody" menos nervosa e punk que o original. Os meteorologistas previam chuva torrencial, mas São Pedro também gosta de rock e fez o céu abrir a tempo de"Walking on the Moon".

O show terminou com "Every Breath you Take" e depois "Next to You". A viagem terminara. 2007. Suado, rouco, mancando e com a alma mais leve, eu estava de volta ao futuro. Uma pena que meu afilhado de 15 anos, filho daquele meu primo do primeiro parágrafo, não pôde estar aqui. Gostaria de ter compartilhado esse momento com ele. Como seu pai fez comigo.

"...The future is but a question mark
Hangs upon my head there, in the dark..."

sábado, 1 de dezembro de 2007

Os Bootlegs, os Piratas e a Nova Ordem Mundial

Bootleg é o termo em inglês para um disco não oficial (e não autorizado) de um artista (aqui no Brasil é conhecido como pirata). Geralmente é uma gravação de um show e pode ser feita por um fã no meio da platéia, ou em um esquema mais profissional com gravação direto da mesa de som. Este último esquema produz uma gravação com melhor qualidade. O primeiro cd que comprei foi um bootleg do The Police ao vivo em 1979 em sua primeira turnê pelos Estados Unidos. Isso foi antes mesmo de eu ter um cd palyer. Eu fui a casa de um amigo para pode ouvi-lo.

Atualmente, o termo "disco pirata" adquiriu outro sentido. O termo refere-se às cópias dos discos oficiais encontradas nos camelôs. Para melhor entendimento usarei o termo pirata com este sentido e o termo bootleg com o sentido original.

A cultura dos bootlegs ajudou a criar mitos e alguns são tão raros que se tornaram o santo graal dos fãs. O bootleg é uma coisa de fã, é uma tentativa de compartilhar e eternizar momentos ao vivo da banda objeto de culto. Claro que o lance se profissionalizou e muita gente ganhou dinheiro com isso. Os últimos bootlegs que ouvi são gravações de excelente qualidade e as capas e encartes dos disco eram muito bons. Alguns bootlegs acabaram se tornando discos oficiais, como o acústico do Paul Mcartney, que têm o subtítulo "The Official Bootleg". O Pearl Jam, cansado de ver seus shows seguidamente virarem bootlegs, lançou diversos discos de seus shows naquela série de álbuns de papelão.

Os discos piratas nasceram da tecnologia moderna. Com a queda dos preços de computadores e dos cd's virgens, ficou fácil para os meliantes montarem fábricas de cd's no quintal de casa. Ajudados pelo elevado preço dos cd's originais e com uma logística de produção descentralizada e distribuição maciça, os discos piratas inundaram o mercado brasileiro. Os bootlegs nunca foram uma dor de cabeça para as gravadoras, eles representavam um mercado paralelo ao dos discos oficiais. Eram sim, uma dor de cabeça para alguns artistas que não não ganhavam com essa produção alternativa. Não ganhavam diretamente, pois os bootlegs ajudavam a cultivar os fãs em torno da banda.

Agora o jogo é diferente, junte-se a internet, com as tecnologias baratas para gravação de cd's, o iPod e um bando de garotos entendidos em informática e ... BUUM! Os programas peer-to-peer (P2P) surgiram e, o que os fãs faziam com as fitas K7, agora podem fazer através dos fios com alguém do outro lado do mundo.

As novas tecnologias mudaram a maneira como a música é vista e utilizada pelo consumidor, mas a indústria musical ainda continua na era do vinil. Isto fez com que seus lucros despencassem e os investimentos passaram a ser direcionados para os sucessos fáceis e certeiros. Com menos dinheiro, o jabá das rádios minguou e elas também passaram a tocar a música do povão, sucessos populistas para as massas. E tome flashback. Coletâneas e mais coletâneas caça-níqueis foram lançadas. Timidamente as gravadoras entraram na era da música digital, contudo a idéia de manter o lucro continua e paga-se o mesmo preço do cd nas músicas por download.

As gravadoras acordam lentamente para a nova ordem mundial. Há um novo ambiente lá fora e não adianta insistir no mesmo modelo de negócio. Há que se fazer uma quebra de paradigma. Mas isso exige pensar, e aí já é pedir demais... Ao contrário, preferem virar suas baterias para o usuário dos sistema P2P de troca de música. Os chamam de piratas e os processam, como aconteceu recentemente com uma mãe solteira americana que vai ter que trabalhar a vida inteira para pagar a multa que a RIAA conseguiu lhe aplicar através da corte norte-americana.

Eu baixo música na internet, mas não me considero um pirata. Sou um fã e troco música com outros fãs. Mas também compro cd's, aliás, compro muito cd. Não adianta lutar contra a maré, baixem os preços das músicas por download. Vide Radiohead, viva o Radiohead. Acredito que o volume de negócios via internet iria aumentar.

Como diria o Pernalonga: "por hoje é só pessoal". Faltam 7 dias para o show da década. Este será o tema da próxima coluna.



sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O funk carioca é mesmo uma bosta ou eu estou ficando careta?

Uma das desvantagens em envelhecer é a tendência à caretice. Tenho me esforçado para manter a mentalidade jovial e sempre que me vejo prestes a tomar uma atitude careta eu penso no que meu pai faria numa situação análoga. E aí eu faço exatamente o contrário. Penso nisso, por que está para se formar um conflito de gerações em minha casa. Minha filha de 4 anos já mostra uma predileção por funk, incentivada pelas amiguinhas da escola e pela mãe e, apesar dos meus esforços em fazê-la gostar de rock, o lado negro da força parece estar ganhando terreno.
As vezes tento olhar para a situação sob o aspecto do conflito de gerações. Afinal de contas isso já aconteceu na geração anterior à minha. Quando o rock surgiu ele também era um ritmo renegado e classificado como uma música perniciosa, e de qualidade inferior. Até o jazz sofreu preconceitos. Mas não dá para comparar o Bonde do Tigrão com Raul Seixas, dá? E a Tati Quebra Barraco com a Rita Lee? Isso para ficar nos artistas nacionais, não vou nem falar em Beatles.
Tudo bem... são contextos diferentes, eu concordo. Então vejamos que contexto é esse em que nasceu esse tal de funk carioca. Estamos longe dos períodos turbulentos da ditadura e do período de estagnação econômica e hiperinflação da década de 80. Temos estabilidade política e prosperidade econômica, mas a desigualdade econômica continua cruel, e a educação pública caiu muito de qualidade. E para piorar, vivemos em uma sociedade consumista e imediatista.
E assim funk nasceu. Fruto da necessidade de expressão dos jovens de classe mais pobre e logo abraçado pela classe média e alta. Com rimas pobres abusando dos erros gramaticais, e utilizando-se de melodias já existentes e as batidas do Miami Bass, o funk virou o movimento da nova geração.
Não vou reprimir minha filha, vou educá-la com o melhor que posso dando a ela acesso ao que considero melhor na cultura, mas deixarei que ela faça suas próprias escolhas. Mas no meu cd player, SÓ ROCK'N'ROLL!!!!
Vejo vocês no Maracanã dia 08/12/2007 às 20:00.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Vila Nova de Cerveira

Bem vindos à minha Vila. Mudei o nome do blog, por já haver outro com o mesmo nome, mas tratando apenas de tecer loas às louras geladas.
Aguardem a nova coluna para breve.

Abraço do Cerva.

sábado, 17 de novembro de 2007

Cerveja Só!

Meu nome é Cerveira (36), meus amigos me chamam de Cerveja. Este é o meu blog. Aqui escreverei sobre aquilo que me der na telha, mas principalmente, sobre as angústias de estar chegando aos 40, sobre falta de tempo, sobre música, sobre os livros de Nick Hornby. Tentarei manter uma postagem por semana.

Acabo de ler a "biografia" do disco "Dark Side of the Moon". É interessante para os fãs conhecerem os bastidores da gravação do clássico, mas para os não-iniciados é uma chatice.
Lembro-me da primeira vez que ouvi o disco por completo. Foi um choque. Já tinha ouvido algumas músicas em separado, mas não a obra por completo. Li as letras junto com o vinil tocando e fiquei muito impressionado. Quando ouvi "the great gig in the sky" foi um soco no estômago. Botava o disco para tocar todos os dias, minha mãe dizia: "Meus Deus, não aguento mais essa mulher gritando no meu ouvido!"
Atualmente entendo melhor o disco do que na época. Consumo, dinheiro, status, tempo, relacionamentos, sucesso. Não é simples administrar o seu ambiente. As pessoas têm expectativas a seu respeito, a toda hora somos cobrados a falar a coisa certa, a ser um bom pai, a ser um bom profissional, a ser feliz. Porra, não dá para ser feliz o tempo todo, isso é uma idiotice! Não perco meu tempo tentando ser feliz. O que há de mal em um pouco de melancolia?
Renato Russo esprimiu bem o ambiente hostil a que somos submetidos. Você tem que passar na porra do vetibular, ter um emprego, casar, ter mais de um filho, ter casa própria, ter carro do ano, férias na Europa.
Nick Hornby consegue traduzir um pouco das angústias do homem próximo aos 40. Em seu livro "Um grande garoto", ele fala de um cara com 36 anos que nunca trabalhou e vive da herança do pai. O cara é considerado um ET! Outro que consegue captar esse sentimento é John O'Farrel em "A maior conquista de um homem".

Muito bem, já escrevi sobre música, angústia e livros. Não vou esgotar os assuntos logo na primeira postagem. Nos falamos na próxima semana.

Meu amigo Marconi tem seu blog: O Esquisito, recomendo a visitação, pois ele escreve bem e seus assuntos são sempre interessantes.